Motivo e mote
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Cecília Meireles
Eu canto porque fugiste,
instante,
deixando-me a vida incompleta.
Não sou alegre – sou triste.
Serei poeta?
Amando as coisas fugidias,
não sei se é gozo ou se é tormento
atravessar noites e dias
no tempo.
Eu desmorono o que edifico,
castelos de areia desfaço,
sabendo assim que nada fica
do meu traço.
Mas canto e eis que a canção é tudo,
na total desrazão de ser cantada,
por mais que a voz se saiba um dia muda
(por que voz, por que poeta?)
– por nada.