Eu cantarei a dor tão docemente
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Luís de Camões
Eu cantarei a dor tão docemente,
por uns termos em si tão concertados,
que mesmo sendo o canto amargurado,
o meu cantar seja bem-vindo à gente.
Conquanto a minha dor não afugente,
insistirei no canto, pressurosa,
e não terá menos encanto a rosa
nascida de tal solo e tal semente.
Talvez alcance a glosa mais encanto
regada pelas águas do meu pranto,
o mesmo pranto que em meus olhos vistes.
E quando forem pó, dor e amargura,
restarão inda uns ecos de ternura
nesse sorriso dos meus versos tristes.