Vestígios - poemas escolhidos > A construção do rosto

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Sinais

A loucura passou, deixando atrás de si
um rastro de despojos
iluminados.
O relógio parou há tantos anos
e uma camada de pó
foi cobrindo móveis, parapeitos, frestas
e aquele jornal dobrado
com a foto de Getúlio Vargas
tomando chimarrão.
Buscar em todos os sinais?
Procurar em mãe e pai, amigos e parentes
os destroços de uma infância naufragada?
O tempo é assim verde, frio.
E dos grandes rodamoinhos
ressurgem fragmentos:
mãos sardentas, cabelos mofados
– a loucura com seu rastro de despojos
decepados e encardidos.
E disso tudo que expelimos
como um vômito de mares interiores,
desse tesouro de rejeitos e ternuras doloridas,
como construir um corpo inteiro
já não tão jovem que não tenha cicatrizes,
mas que seja ainda elástico
sensível
e dotado de alegria?


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