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E existe essa brecha para o espanto

Poeta, está na hora em que os galos móveis dos para-raios
Bicam a rosa dos ventos.

Mario Quintana

Desta hora tenho medo.
Carlos Drummond de Andrade


E existe essa brecha para o espanto,
hora dos portões de ferro
e das muitas grades rendilhadas.
Dos galos girando em torno das agulhas
nos cataventos descabelados.
Quando se rarefaz a luz
que mantinha as coisas em seus lugares do dia,
as pupilas se dilatam
e tudo se desampara.
As paredes oscilam e se confrontam,
mais perto, mais longe,
e só na dádiva do primeiro lampião,
ainda uma vez se afastam, se aproximam,
retomam sua posição
e se calam.
Quando principia a clarear
e os postes acesos começam a naufragar na luz da
                                                             [madrugada.
Essa hora terrível,
quando coisas esquecidas martelam um galope oculto além                                                                     [do ouvido
e fermentam no sangue.
Quando a mão direita não conhece a mão esquerda
e as sombras conversam.


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