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Sonho I

Abriu-se a rosa-dos-ventos.
Seu rosto boiava n’água,
seu rosto se desmanchava
em pétalas lentas.
Abriu-se a rosa-dos-ventos,
carrossel, caleidoscópio,
cega vertigem no centro. 

Em seu rosto, tantos rostos,
nos seus olhos tantos olhos,
em suas pétalas curvas
ia se aninhando o tempo.
Transparentes, pelas águas
– as verdes águas sem data –
passavam mapas:
rios claros, montes densos,
cidades, pontes e casas,
andaimes de vidro e vento.
Um pássaro abria as asas,
aviões, cardumes, barcaças
vinham por mares de nada. 

Luzia um farol, luzia,
ao lado, as rosas sorriam
em seus canteiros de sono.
Seu sorriso – íntimo ouro –
pensava cores, veludos
do fundo de um negro puro. 

Chamou-me a rosa dos ventos.
Previ paisagens lunares,
frias distâncias de estrelas
nos seus caminhos.
Pelos desertos de areia
divisei palmas humanas,
oásis de vento e tâmaras.
E de um coágulo espesso,
no cruzamento de linhas,
ao centro,
vi partirem raios longos
buscando em confins de mundo
as barcas, as praias, as ilhas.
De um lado avultava a noite,
do outro, apontava o dia. 

Azuis, gaivotas e velas
iam nas nuvens.
Luzia um farol, luzia,
nas verdes águas sem data
o horizonte se abria.
Chamou-me a rosa-dos-ventos
tremeu a ponta da agulha
por um momento. Segui-a.


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